Fazenda Feliz Remanso

Fazenda Feliz Remanso

Lucas Antônio Monteiro de Barros e Cecília Gonçalves de Moraes casaram-se em 1834, ele, filho do visconde de Congonhas do Campo, ela, filha dos barões de Piraí. Através de dote de casamento, Lucas recebeu do sogro uma sesmaria de meia-légua em quadra localizada às margens do Rio Paraíba do Sul, onde fundaram a importante Fazenda Três Poços1. Com o tempo, devido ao grande desenvolvimento da lavoura cafeeira, Lucas criou em suas terras mais duas unidades de produção de café, as fazendas do Brandão e Volta Redonda (LIMA; ARAÚJO, 2007, p.64-72). Por volta de 1845, adquiriu, em leilão em praça pública, a Fazenda Feliz Remanso, do espólio do falecido José Tomás da Silva, conforme declarou em 1856, quando a registrou no censo de terras de 18502.

Através do levantamento arquitetônico da fazenda, elaborado pelos arquitetos Dora Monteiro e Silva Alcântara, Selso d’Al Belo, Roberto H. Queiroz, Isabel Cristina Castro da Rocha, em dezembro de 1976, constaram que a sede da fazenda teve diversas fases na sua construção:

“...a sede da fazenda é composta de 2 edifícios, interligados por um 3º corpo, com planta em ‘L’ e alpendre voltado para leste. O 1º é mais antigo, porão bastante elevado, acesso por escada externa. A fachada principal é dividida em 3 tramos por esteios de madeira, aparentes; 2 janelas em cada tramo e mais uma porta no 3º, protegida por pequeno alpendre de construção posterior. O edifício mais recente, com pavimento térreo menos elevado, volta a fachada principal, exígua, para o poente e extensa lateral com alpendre avarandado para o norte. Chama atenção um pequeno campanário junto à casa do capataz. É notável também a extensão dos aquedutos que servem respectivamente, ao engenho de açúcar e ao de fubá e tanque de lavagem de café. O 1º ainda abastece a roda d’água que continua em funcionamento; o 2º encontra-se bastante arruinado. No interior, interessante banheiro; o local para banho necessitando de escada de acesso tal a profundidade, bem como extensão do mesmo”.

Quanto à tipologia, a edificação é descrita como:

“...composta de 3 corpos distintos, não oferece esta sede um aspecto homogêneo. O 1º com madeiramento estrutural aparente, faz pensar na arquitetura que se desenvolvia em Minas Gerais, local de procedência dos primeiros proprietários das terras, que o fizeram construir em 1845”2. O 2º, datando de 1878, reflete a influência que exercia a arquitetura urbana sobre a rural, nesta época: fachada principal exígua, de grande profundidade, corredor lateral servindo como elemento de circulação – partido típico das construções implantadas em lote urbano de grande profundidade e pouca testada. O tratamento da fachada principal, nesse, é mais uma prova desta influência, revelando gosto neoclássico na simetria de composição e num coroamento por frontão triangular, com ornamentos singelos. O 3º é um corpo intermediário, já citado. O mesmo pode ser observado na casa de engenho (1880) com aspecto de sobrado urbano. Características construtivas: sede inicial (1845): estrutura de madeira, paredes de taipa, sobre embasamento de alvenaria de pedra, telhado em 4 águas com telha canal. Datando, provavelmente de 1878, o tratamento externo do porão alto em massa simulando aparelho de cantaria e o pequeno alpendre que protege o patamar da escada. Sede posterior (1878): paredes perimetrais de alvenaria; divisórias internas de taipa e cobertura em 2 águas com telhas francesas (importadas de Marseille); embasamento de alvenaria (porão baixo) com revestimento em massa, simulando aparelho de cantaria”.

Merece destacar que o atual e belo altar com suas alfaias, imagem de Nossa Senhora da Conceição e a porta da capela, com pinturas em suas almofadas, pertenciam originalmente à capela da pioneira Três Poços, trazidas no século XX para a Fazenda Feliz Remanso.

Como podemos perceber inicialmente, Feliz Remanso, funcionava como fazenda “satélite” ou “de trabalho”, como alguns especialistas preferem denominar, ligada à fazenda principal, Três Poços.

Por ocasião da morte do comendador Lucas Antônio Monteiro de Barros, ocorrida em 10 de março de 1862, a Fazenda Feliz Remanso foi herdada pelos dois filhos do casal, Maria Rita e Lucas Antônio. Este adquiriu a parte da irmã e tornou-se o único proprietário.

No inventário dos bens do casal, Lucas Antônio e Cecília, a Fazenda Feliz Remanso foi assim avaliada: 144 escravos, avaliados em 174:200#000; 44 alqueires geométricos de terras em matas virgens, avaliados em 17:600#000 e 116 alqueires geométricos em cafezais e capoeiras, avaliados em 23:350#000; 276.000 pés de café, avaliados em 51:240#000.

Os valores totais – somado ao das outras propriedades – totalizavam 1.164.000 pés de café e 627 escravos, sendo estes últimos correspondentes a 735:400#000. Em relação ao valor total do monte-mor de 1.784:103#222, a escravaria representava 41% dessa fortuna.

Lucas Antônio Monteiro de Barros (filho) nasceu em 23 de setembro de 1856 e faleceu em 3 de março de 1930. Era moço fidalgo com exercício na Casa Imperial, comendador da Imperial Ordem da Rosa e cavaleiro da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Portugal. Casou-se com D. Carmem de Guimarães Coutinho. Recebeu de herança da mãe a Fazenda das Quinze Ilhas e o Sítio Retiro.

Feliz Remanso atravessou o século XX em poder dos Monteiro de Barros, sendo uma das poucas fazendas históricas existentes no Vale do Paraíba Fluminense que permaneceu nas mãos da mesma família desde a sua fundação, na primeira metade do século XIX.