Fazenda Espuma
Em princípios do século XIX, Antonio Teixeira ocupou terras nas margens do Rio Paraíba, que dariam origem à Fazenda da Espuma. Um dos poucos registros da passagem de Teixeira pela propriedade é um mapa produzido em 1814, que configura diversas sesmarias na área compreendida entre as localidades de Dorândia, Ipiabas e Barra do Piraí. Outro documento é o processo de inventário post mortem de Manoel Joaquim Soares, de 1842, em que a viúva meeira declara serem suas as terras adquiridas dele, Teixeira.
Em 1844, consta que D. Rita Maria da Conceição, já viúva, vendeu a Fazenda da Espuma (62,5% da antiga sesmaria) ao Barão de Piraí. A estas terras, o barão uniu a outra porção adquirida dos herdeiros de Moreira, como ele declara em 1856 no Registro Paroquial de Terras. Os Gonçalves de Moraes foram pioneiros na região do Vale do Rio Piraí, na época município de São João Marcos. Em 1776, nascia o seu filho mais ilustre, José Gonçalves de Moraes. Porém, foi nas terras de Piraí doadas por seu pai, Antonio Gonçalves de Moraes, que seu irmão, o Padre Joaquim José Gonçalves de Moraes, fundou um engenho em princípios do século XIX, denominado Três Saltos, levando seu irmão José como sócio e administrador da fazenda.
Por ocasião da partilha dos bens do Barão de Piraí, a Espuma coube à filha D. Joaquina Clara de Moraes Roxo, casada com o Comendador Mathias Gonçalves de Oliveira Roxo, futuro Barão de Vargem Alegre (1866). Seis anos depois de ter recebido de herança do pai, D. Joaquina Clara faleceu, deixando marido e filhos. Logo, feito o inventário dos bens do casal, a fazenda foi herdada pelo filho, Raymundo de Oliveira Roxo.
Tudo indica que a Espuma era apenas uma fazenda de trabalho e produção. Nem mesmo o café era beneficiado no local, provavelmente feito em outra propriedade mais próxima.
Em 1867, Raymundo de Oliveira Roxo vendeu a Fazenda da Espuma ao seu pai, Mathias Gonçalves de Oliveira Roxo, já Barão de Vargem Alegre. Através da partilha dos bens do Barão de Vargem Alegre, coube a Fazenda da Espuma ao filho de igual nome, Mathias Gonçalves de Oliveira Roxo, e sua esposa, D. Joaquina Clara Carneiro Leão Roxo (filha dos Barões de Santa Maria), com 103 escravos, sendo 11 ingênuos (Lei do Ventre Livre). Logo que assumiu o legado, Mathias realizou obras de modernização na fazenda. No engenho, Mathias instalou um moderno maquinário movido a vapor para beneficiamento de café e cana, ainda existente no local, composto por um conjunto de equipamentos, em sua maioria, da marca W.V.V.Lidgerwood e um brunidor “Bernardino Correa de Mattos” todos movidos a vapor, dispensando a roda d água tão comum nas fazendas do Vale.
As obras de conclusão da reconstrução do quadrilátero funcional da fazenda coincidiram com a elevação ao baronato de Mathias, agraciado com o título de Barão de Oliveira Roxo em 13 de setembro de 1882. As tentativas dele em modernizar a produção de café da fazenda da Espuma, a princípio, de nada adiantaram. A maquinaria, por mais abundante ou eficiente que fosse não podia fazer o milagre de enfrentar a insolvência crescente das grandes e pequenas fazendas cafeeiras do Vale, cujos proprietários lamentavam o desaparecimento das fontes de crédito. A raiz das dificuldades estava no envelhecimento e morte dos escravos que trabalhavam nos cafezais também envelhecidos e esgotados. Sem respaldo econômico para enfrentar as mudanças na relação de uma sociedade liberta da escravidão, o Barão de Oliveira Roxo vendeu sua fazenda quatro anos depois da abolição da escravatura.
Como tentativa de aproveitar a lavoura cafeeira no Vale do Paraíba, devido à alta do café nas exportações brasileiras, muitas companhias agrícolas adquiriram diversas fazendas em hasta pública. Em 1892, a Companhia Fluminense de Núcleos Agrícolas adquiriu do Barão de Oliveira Roxo a Fazenda da Espuma.
Passado um ano, a Companhia Fluminense de Núcleos Agrícolas, que se encontrava em apuros financeiros, obrigada a ser liquidada, vendeu novamente a Fazenda da Espuma, juntamente com a da União, que também havia pertencido aos Oliveira Roxo. O adquirente foi o Barão de Peres da Silva, que também ficou pouquíssimo tempo como proprietário vendendo-a em 5 de junho de 1895 ao Capitão Luiz da Silva Pinto.
Pouco tempo depois de adquirida a fazenda pelo Capitão Luiz da Silva Pinto, que também fica pouco tempo a frente da propriedade, esta é vendida em 1898 ao francês Joseph Vachod.
Na escritura de compra e venda da fazenda, Joseph Vachod é citado como negociante e morador na cidade de Lyon, na França, nesta ocasião, representado por seu procurador e irmão Louis Vachod. Com a ausência de Joseph Vachod, o casal Louis Vachod e Solange Baptistine Pottier Vachod assumiu a administração da propriedade. Em 21 de fevereiro de 1909, faleceu na Fazenda da Espuma Louis Vachod, aos 52 anos de idade, deixando viúva e dois filhos pequenos, Luis e Solange. Meses depois, D. Solange adquiriu a fazenda de Joseph Vachod com as mesmas características da escritura de 1898.
Solange viveu até 1947 na Fazenda da Espuma quando faleceu. Metade da fazenda coube a seu filho Luis Henrique Vachod que se formou pela Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Ficou viúvo em 1976 e neste estado ficou até a sua morte em 1997.
A produção de aguardente também esteve presente durante anos na fazenda, com períodos de interrupções de tempos em tempos. O fabrico da Aguardente Espuma ocorreu entre 1952 e 1994.
Atualmente, a histórica sede da Fazenda da Espuma, com uma área aproximada de 20.000 m2 pertence à filha Solange Vachod e seus dois filhos, Luis Henriquez e Solange Chiappero.
Sobre a denominação “Espuma”, não encontramos nenhuma explicação plausível para tal nome. Nos documentos mais antigos aparece denominada “Poço da Espuma”. Conta a tradição que este nome tem origem nas “espumas” produzidas pelas águas turvas do Rio Paraíba do Sul, em um redemoinho entre pedras, cujo “poço” fica próximo à localização da sede da fazenda.